terça-feira, 6 de janeiro de 2015

DUARTE CASTEL-BRANCO (1927-2015)

Faleceu no dia 4 de Janeiro, na sua Quinta da Omnia, em Abrantes, o arquitecto urbanista Duarte Castel-Branco.

Era uma “pessoa franca, aberta e calorosa”, características que definiam ainda o modo “como sempre viu a profissão”. Decano dos urbanistas portugueses (Costa Lobo, que era o sócio n.º 1 da AUP, faleceu em 2013), “A sua bagagem técnica era inquestionável. Tinha um currículo vastíssimo, com um longo manancial de trabalho de grande qualidade técnica que foi elaborando ao mesmo tempo que manteve a sua actividade de professor”.
Pedro Guimarães, presidente da Associação dos Urbanistas Portugueses.

Destaca-se “o carácter pioneiro” de Duarte Castel-Branco “nos temas das cidades e do planeamento”, acrescentando que “é uma perda grande para a arquitectura” e realçando que além “das obras que deixam a sua marca”, o “grande conhecimento e dedicação” de Duarte Castel-Branco “nas áreas do urbanismo, planeamento e cidades”, algo que começou a fazer desde muito cedo na sua carreira, numa altura em que “estas questões das cidades não eram ainda tão visíveis”.
João Santa-Rita, presidente da Ordem dos Arquitectos.

Nascido em Macau, a 25 de Julho de 1927, de família abrantina, estudou em Abrantes, no Liceu Francês e no Liceu Camões, e diplomou-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1960, com 20 valores. Em Itália (Milão) e em França (Paris), como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, completou a sua formação com estudos de urbanismo, em 1962 e 1963.

A partir daí desenvolveu uma intensa actividade como professor, urbanista e arquitecto. Na sua actividade de projectista deste período incluem-se numerosas obras de índole diversa, habitação, fábricas, serviços públicos, por encomenda privada ou entidades oficiais.

De 1964 em diante, desenvolve investigação junto do Centro de Estudos de Urbanismo e Habitação Engenheiro Duarte Pacheco (do qual será presidente em 1975), e é convidado pelo Município de Lisboa para participar na equipa chefiada pelo Arquitecto Georges Meyer-Heine para a elaboração do Plano Director da Cidade.

Fez parte do Grupo de Trabalho sobre Urbanismo e Planeamento do Colóquio sobre a Habitação organizado pelo Ministério das Obras Públicas, no LNEC em 1969. É convidado pela Direcção Geral dos Serviços de Urbanização para participar no Grupo de Trabalho para a elaboração das "Bases da Legislação Orgânica do Urbanismo em Portugal", entregue em Maio de 1972, ano em que se torna Vogal do Conselho Superior de Obras Públicas e Transportes.

Em 1978, é convidado pela Câmara Municipal do Porto para proceder à elaboração do diagnóstico do Plano Geral de Urbanização da Cidade, elaborado pelo Professor Arquitecto Robert Auzelle. Após concurso público é-lhe atribuída a elaboração do Plano Geral de Urbanização/Plano Director do Município, que virá a ser aprovado por unanimidade pela Assembleia Municipal em 1990, e ratificado pelo Governo em 1993.

As Câmaras Municipais da Covilhã e de Ferreira do Alentejo contratam-no para a elaboração dos respectivos Planos Directores Municipais, em 1991, como consultor permanente na orientação dos estudos de Planeamento Urbano e Regional da CPU Consultores. Nesse ano é nomeado Director do Núcleo Regional do Alto Ribatejo, em Abrantes por Despacho de 14 de Outubro.

Como docente, foi Assistente do Professor Arquitecto João Andersen na cadeira de Urbanologia I e II, na Escola Superior de Belas Artes do Porto, em 1966, e a partir de 1967 foi Regente das Cadeiras de Geografia Física e Humana.

Em 1976, ano em que conclui o trabalho "Arranjo Urbanístico da Praça D. Manuel - frente de Pedrouços/Algés", é convidado para professor da Escola de Belas Artes de Lisboa - Departamento de Arquitectura.

Em 1980, integra como vogal a Comissão Instaladora da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, sendo designado como Professor Associado desta Faculdade em 1984. Em 1992 é eleito para Presidente do Conselho Científico da mesma Faculdade. Jubilou-se como Professor Catedrático da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa.

Como Pró-Reitor na Universidade Internacional, foi um dos principais responsáveis pela instalação do Pólo da Universidade em Abrantes, em 1992.

Sempre muito ligado à sua cidade de Abrantes, desenvolveu ao longo da sua vida profissional vários trabalhos para a cidade e região.

O Edifício-Sede do Grémio da Lavoura, posteriormente Cooperativa Agrícola de Abrantes, inaugurado em 21 de Setembro de 1961, foi o projecto que decidiu apresentar, em 1960, no Concurso para Obtenção de Diploma de Arquitecto (CODA) perante um júri presidido pelo Mestre Carlos Ramos, director da Escola Superior de Belas Artes do Porto, e que lhe valeu a classificação de 20 valores. Voltou às suas mãos em 2000 para recuperação e reconversão para adaptação ao Serviço de Finanças de Abrantes, inaugurado em 2002.

Foto: Rui Morais de Sousa


A intervenção de Duarte Castel-Branco nas Fundições do Rossio de Abrantes, em 1968, teve como objecto a criação de um espaço de exposição de alfaias, lagar modelo e laboratório. O espaço expositivo é constituído por uma única sala com dois níveis, para realçar a função e o destaque dos objectos expostos.

Foto: Rui Morais de Sousa


Em 1966, deve-se-lhe a salvação in extremis do que restava do antigo Convento de S. Domingos de Abrantes, da demolição pelo Ministério da Justiça que no mesmo local pretendia construir o novo Palácio da Justiça. Em 1967 é contratado pela Câmara Municipal de Abrantes para elaboração de estudos prévios e anteprojecto de restauro e recuperção para centro cultural com museu, biblioteca, sala de espectáculos e escola de artes. A inauguração da Biblioteca Municipal de Abrantes dá-se em 1993, com o apoio do Instituto Português do Livro e da Leitura.


Fotos: Rui Morais de Sousa

Realiza ainda o projecto para o Monumento a D. Nuno Álvares Pereira no Outeiro de S. Pedro, em colaboração com o escultor Lagoa Henriques e o pintor Teixeira Lopes, em 1966 e inaugurado em 1 de Novembro de 1968, e o conjunto de blocos habitacionais da rua de Goa.

Ao nível do planeamento geral e urbano, apresenta, em parceria com o Arquitecto Fernando Távora, o ante-plano de urbanização do Rossio ao Sul do Tejo e parte da baixa da freguesia de S. Miguel, em 1965, e em 1967 elabora o ante-plano Territorial de Ordenação Urbanística do Norte do Ribatejo. E data de 1980 o Plano Geral de Urbanização do Concelho de Abrantes, realizado em parceria com o Arquitecto Viana de Lima.

Em Outubro de 2007 doou ao município de Abrantes a colecção documental do seu trabalho, projectos constituídos por peças desenhadas e respectivas memórias descritivas que ficaram à guarda do Arquivo Histórico Municipal Eduardo Campos.

Entre outras distinções foi premiado pelo Conselho Europeu de Urbanistas e pela Comissão Europeia para os Prémios Europeus de Planeamento Urbano e Regional, pelo seu trabalho no Plano Director Municipal/Plano Geral de Urbanização do Porto, em 1994, e galardoado com o prémio "Obra Relevante no Contexto da Cultura Nacional" da Academia Nacional de Belas Artes, em 2004.

Deste a sua criação, o Núcleo do Médio Tejo da Ordem dos Arquitectos recebeu o seu apoio e teve a honra de contar com a sua participação, colaboração ou simples presença em várias das actividades que desenvolveu, desde logo no debate promovido para discussão do Plano de Urbanização de Abrantes, em Março de 2005, altura em que assinou o Livro de Honra deste Núcleo, ou, em Dezembro do mesmo ano, a sua participação na mesa redonda do "Manifesto Isto É Arquitectura" altura em que foram afixados painéis identificativos em alguns edifícios notáveis de Abrantes, entre os quais os do Grémio da Lavoura e da Biblioteca Municipal António Botto, da sua autoria.

Em 2007, ano em que completou 80 anos, participou em duas conferências que lhe foram dedicadas, a primeira, em Fevereiro, no âmbito da exposição "IAP-XX - Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal", e a segunda no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Arquitectura e da exposição que lhe foi dedicada intitulada "Duarte Castel-Branco, Arquitecto, Urbanista, Um Percurso, Uma Obra", todas realizadas na Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes, resultado de parcerias do Núcleo do Médio Tejo com o Município de Abrantes.

Honrou-nos ainda com a sua presença na recepção feita ao Arquitecto Álvaro Siza Vieira, seu colega e amigo de longa data, por ocasião do encerramento da exposição "Álvaro Siza, Obra, Vontades e Desenhos", em Novembro de 2010.


Ligação para o seu currículo.

Ligação para notícias sobre o seu falecimento:
Público, 2015.01.05
Diário de Notícias, 2015.01.05
Correio da Manhã, 2015.01.05
Diário de Notícias da Madeira, 2015.01.05
Diário de Aveiro, 2015.01.06

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