terça-feira, 19 de novembro de 2013

PROJECTAR COM EILEEN GRAY


EILEEN GRAY será a protagonista da primeira sessão da actividade PROJECTAR contada no feminino, no próximo dia 21 de Novembro, pelas 19h00, no edifício dos Paços do Concelho de ALCANENA.

Nascida em 9 de Agosto de 1878, em Enniscorthy, na Irlanda, como Kathleen Eileen Moray Smith, quinta filha de um pintor amador, que lhe incutiu o gosto pelas artes, e de uma descendente de uma família aristocrática, teve o seu nome alterado para Kathleen Eileen Moray Gray quando a sua mãe se tornou a 19.ª Baronesa Gray.

Foi uma das primeiras mulheres a frequentar a Slade School of Fine Art, em Londres, onde ingressou em 1898, e continuou depois os estudos em Paris, a partir de 1902, na Académie Julian e na École Colarossi, continuando no entanto a visitar frequentemente as casas da família em Londres e na Irlanda.

Em 1905 regressou a Londres por doença da mãe, voltando a frequentar a Slade, onde se sente cada vez mais insatisfeita com o desenho e a pintura. Nas suas deambulações por Londres descobre uma oficina de reparação de trabalhos em laca onde se oferece para trabalhar, o que lhe vai permitir aprender os rudimentos da arte da lacagem, atraída que estava já por essa antiga arte oriental da China e do Japão.

De novo em Paris em 1906, vai continuar a aprender essa arte com Seizo Sugawara, um jovem artífice japonês vindo do norte do Japão que aceita ensinar-lhe os segredos do ofício. Essa aprendizagem vai ocupar-lhe quatro anos, período em que se instala num apartamento em Paris que virá a ser a sua residência até ao final da sua vida.

Mas só em 1913 se sentirá confiante para expor os seus trabalhos, com uns painéis decorativos no Salon des Artistes Décorateurs, que vão despertar o interesse do estilista Jacques Doucet que para além da aquisição aí feita, lhe vai encomendar uma série de trabalhos para o seu apartamento de Paris.

Entretanto, com o estalar da Primeira Grande Guerra, Eileen vai para Londres, levando Sugawara consigo, só voltando a Paris no final de 1917, com o aproximar do fim da guerra, altura em que recebe a encomenda para decorar o interior de um apartamento na Rue de Lota, projecto que ela aproveita para abordar com uma lógica de conjunto, com os seus móveis, tapetes e painéis decorativos. Este seu trabalho será muito bem referenciado em vários artigos em jornais e revistas.

Incentivada por este sucesso e pelo crítico de arquitectura Jean Badovici, abre o seu espaço comercial em Paris em 1922 com nome Galerie Jean Désert, nome masculino fictício, onde vende os seus trabalhos e colaborações com Sugawara e Evelyn Wyld. Conquista uma clientela selecta, onde se contam o realizador René Clair, o escritor James Joyce ou a criadora de moda Elsa Schiaparelli, embora não se revele um negócio rentável. A loja encerra em 1930.

Em 1923 cria um conjunto de quarto, Bedroom-Boudoir para Monte Carlo, no Salon des Artistes Décorateurs, muito mal recebido pela crítica francesa - a filha do Dr. Caligari, chamam-lhe - mas que atrai a atenção do arquitecto holandês J.P. Oud. Também a sua contribuição para o Salon d’Automne do mesmo ano foi elogiada pelos colegas expositores, entre os quais Le Corbusier e o arquitecto Robert Mallet Stevens.

Encorajada pelo seu novo companheiro Jean Badovici, volta-se para a arquitectura, visitando em conjunto vários exemplos da arquitectura moderna na Europa, e projectando a partir de 1924 aquela que será a sua obra maior, a casa E.1027 numa encosta junto ao mar em Roquebrune, perto do Mónaco. Faz o projecto de arquitectura em colaboração com Jean Badovici e desenha todo o mobiliário expressamente para a casa, que fica pronta em 1929.

Estabelece relação com a Union des Artistes Modernes, em cuja exposição de 1930 expõe o projecto da casa E.1027, e que será também publicado no primeiro número da revista L'Architecture d'aujourd'hui.

Em 1932 separa-se de Badovici, a quem deixa a casa E.1027, e começa a construção de uma nova casa na estrada de Castellar para Menton, a que chamará Villa Tempe a Pailla, um projecto mais pessoal e intimista, feito a solo, já sem a colaboração de Jean Badovici. A espaços mais compactos alia mobiliário versátil e articulado.

Aceita o convite de Le Corbusier para participar na Exposition internationale «Arts et Techniques dans la Vie Moderne» de Paris em 1937, com um projecto seu para um Centro de Férias e Lazer. No entanto, levando uma vida cada vez mais de reclusão, não estará presente na inauguração. Entretanto, por essa altura, Le Corbusier enquanto amigo de Badovici, visita a casa E.1027 à qual não resiste adicionar o seu contributo, uma série de pinturas murais nas suas paredes entre 1937-38. Eileen considera esta intervenção, sem a sua autorização, um acto de puro vandalismo e corta relações com Le Corbusier. Quer tenha sido por admiração ou por inveja do resultado atingido por Eileen, a verdade é que Le Corbusier se sentiu cada vez mais ligado à casa. Não logrando adquirir a casa, acabou por comprar um lote de terreno adjacente onde edificou o seu Le Cabanon. Viria a morrer na manhã de 27 de Agosto de 1965, quando foi nadar na praia próximo da casa E.1027.

Eileen Gray continuaria a viver na Villa Tempe a Pailla até ao primeiro ano da Segunda Guerra Mundial, quando foi forçada a mudar-se mais para o interior. Quando a guerra terminou, descobriu que o apartamento em Saint-Tropez onde tinha guardado muitas das suas coisas tinha sido bombardeado e que a Villa Tempe a Pailla tinha sido saqueada. Regressou ao seu apartamento em Paris que, felizmente, permanecia intacto.

Aí levou uma vida recatada na companhia apenas de um círculo muito fechado de amigas, voltando a projectar muito esporadicamente, mas sendo progressivamente cada vez mais esquecida pelos seus pares e pelo meio da arquitectura que entretanto glorificava le Corbusier ou Robert Mallet Stevens.

Em 1968, um artigo na revista Domus volta a chamar a atenção para o seu trabalho, a que se seguiram exposições dedicadas ao seu trabalho em Graz e Viena, em 1970, e em 1972 o leilão do conteúdo do apartamento de Jacques Doucet em Paris, no qual algumas das suas peças atingem valores recorde para peças decorativas do século XX, e uma exposição no Royal Institute of British Architects em Londres. A culminar, a proposta de voltar a fabricar alguns dos seus móveis, processo no qual Eileen Gray ainda vai intervir, nessa altura com mais de noventa anos de idade.

Virá a falecer a 31 de Outubro de 1976, em Paris, no seu apartamento na Rue Bonaparte com 98 anos.


Apoio:
Município de Alcanena

PROGRAMA:

21 de Novembro, 19h00
Edifício dos Paços do Concelho, Alcanena
Convite à Viagem: EILEEN GRAY Designer e Arquitecta
(2006, Jörg Bundschuh, 52')

Em Dezembro não há sessão.
Voltamos a 23 de Janeiro, em Ponte de Sôr.

Estas sessões obtiveram a validação de 1 crédito cada no âmbito da formação obrigatória em temáticas opcionais dos estágios de ingresso na O.A.

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